segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Rescaldo - Trail Santa Catarina

Números engraçados vou referir a seguir. Duas semanas após meu último trail, e a duas semanas da Maratona do Porto, completei aquela que seria no papel a prova/treino (como lhe quiserem chamar), mais difícil da minha preparação, uma semana depois de ter pela primeira vez, ultrapassado a marca dos 30kms, com um treino longo onde fiz 33kms em 3h. Desta vez corri em casa, na 4ª edição do Trail Santa Catarina, prova que já havia feito em 2015.


Não podia deixar de estar presente numa prova organizada pela minha equipa, os Fama Runners. Já na 4ª edição, esta prova estava marcada no meu calendário, como preparação para o grande objetivo do ano, a Maratona do Porto. Alguns colegas que também vão à Maratona, deram-me na cabeça por arriscar fazer um trail a apenas duas semanas da prova, ainda para mais na versão longa (sempre foram 27kms). Se calhar tinham razão como já disse, mas o ambiente de competição torna mais fácil percorrer longas distâncias. Correr 3h em estrada não me dá prazer nenhum, é sempre a mesma coisa e chega a um ponto que é uma luta contra a mente. No trail, sofre-se sempre, mas ao menos o que temos pela frente nunca é igual.

Regresso a uma prova especial para mim
Esta prova é especial para mim, pois marcou o meu regresso aos trails em 2015, após vários meses parado. Acabo de reler minha crónica da prova que fiz em 2015, e foi bom relembrar o que vivi nesse meu regresso. Já na altura tinha rotulado o Trail Curto de Santa Catarina, como o mais puxado que  havia feito no que toca a Trails curtos. Este ano, fiz o Trail Longo de 25kms, e posso dizer que era mais do mesmo. Não era mesmo fácil. 

Como foi a prova
Uma semana após um treino longo de 33 kms, confesso que não estava naqueles dias em que me apetecia correr. Custou a recuperar dos 33kms, senti-me cansado nos treinos, e no dia da prova sinceramente, a cabeça não estava 100% virada para a corrida, mas lá fui. Mais uma vez tive alguns stresses com a entrega do dorsal, que só recebi a 2min do início da prova.

Aprendi a controlar o pessimismo da mente. E antes que perguntem o que estou para aqui a falar, eu explico. Quando temos pela frente um desafio muito grande, é fácil a mente começar a tentar demover-nos, ou fazer-nos desistir. Não sei se acontece com vocês, mas comigo acontece. Sobretudo quando estamos a sofrer, e o corpo reclama por descanso. E esta prova, eu sabia que ia ser complicada, basta ver a altimetria (1000m de acumulado já não é pouco). Vou aprendendo a evitar pensar muito nas coisas, a simplesmente fazê-las. Claro que há altos e baixos, mas no global vou conseguindo controlar a coisa, pelo menos até dar o berro. Ai complica.
Ao contrário de 2015, não fiz o primeiro pico a correr, pois sabia que tinha que gerir meu esforço. Rolei a bom ritmo até perto do km 15, onde senti uma ligeira quebra, que se acentuou um pouco, ao ponto de ter decidido baixar um pouco o ritmo a partir dai. Infelizmente, ainda não tenho resistência para fazer 25kms num monte sem quebras de ritmo.
A prova era complicada. Muito sobe e desce, terreno por vezes rochoso, a massacrar muito os pés e joelhos. Felizmente, dos joelhos não tive queixa nenhuma, já dos pés não posso dizer mesmo.

Quando o pé não se adapta à sapatilha
Tenho corrido no monte com umas Salomon S-Lab XT6 Racing. Não cheguei a fazer o unboxing delas, mas conto fazer uma review às mesmas. Comprei-as após muita pesquisa, mas confesso, não me adaptei bem a elas. São sapatilhas muito duras para mim, e em distâncias maiores massacram muito os meus pés, pelo que mal seja possível vou ter que comprar outras sapatilhas, e deixar as S-Lab para distâncias mais curtas.
  
Um exemplo de como ficaram meus pés



Voltando à prova, a parte final custou. Quebrei fisicamente, e acabei em esforço. Tentei fazer o máximo de kms possível a correr, tentei caminhar o menos possível. Tentei que a cabeça fosse mais forte que o corpo, pois vou precisar vencer estas batalhas comigo mesmo, na Maratona. E embora não tenha conseguido fazer a prova toda ao mesmo ritmo, sinto que melhorei. Ainda não estou onde queria estar, mas sinto-me melhor. E enquanto for assim, tenho que estar satisfeito

Porque nunca devemos consumir um gel que não conhecemos
Hesitei um pouco antes de contar esta história, mas acho que pode ser um bom exemplo para vocês. Fiz a maior parte da prova com um colega de equipa. Ele desce melhor que eu (ainda mais nesta prova, onde tive cuidados extra), e eu era melhor em plano e subidas, pelo que tanto ia ele à frente como eu. Era a sua estreia num trail com mais de 25kms, pelo que só queria acabar. No primeiro reforço sólido que apanhamos, vi que tinha disponível um Gel, de uma marca que nunca tinha experimentado. Peguei um para mim e outra para o meu companheiro.  Por norma quando tomamos um Gel, a seguir temos que beber muitos líquidos. Esta não era necessário beber esses liquidos. Andei uns 2 a 3 kms com o Gel na mão, até o que o tomei. E claramente meu estômago não aceitou bem a coisa, e avariou-me o sistema todo. E cerca de 2 kms depois tive que fazer um "pit-stop" não programado :)
Qual é a lição disto? Nunca consumam um Gel em prova, que não tenham experimentado antes em treinos. Pode-vos acontecer o que aconteceu a mim.

Resto da prova
Depois do meu pit-stop, fiquei muito melhor, e embora a sofrer dos pés dei meu máximo para recuperar o mais possível (perdi no pit-stop uns bons 5min). Não que contasse para nada, mas apanhei meu companheiro muito perto do fim da prova. Após duas ou três provas seguidas, em que o meu companheiro me levou a melhor, não queria mesmo que se tornasse uma tradição. Estamos aqui por nós, mas um bom incentivo nunca fez mal a ninguém.
Acabei a prova em 62º lugar à geral, com o tempo de 03:14:34 para 27kms. O primeiro classificado, fez o tempo de 02:17:29, quase 1h de avanço. Incrível ah?


Organização
Minha apreciação não será influenciada por a prova ter sido organizada pela minha equipa. É uma organização que faz bem o seu trabalho. Trilhos bem marcados, tive quatro zonas de reforço durante a prova, sem falhas de qualquer espécie. Único ponto de melhoria que já transmiti à organização, foi para o inicio da prova. Dei a sugestão de o trail começar pelo menos 30 min mais cedo. Vários atletas chegaram já bem depois de a noite ter chegado, o que pode ser perigoso.
E agora?
Com cerca de 50 treinos e algumas provas pelo meio, o grosso da minha preparação está feito. Agora é recuperar as mazelas nos pés, e fazer mais 8 a 10 treinos para manter a forma, e recuperar energias para a Maratona do Porto, dia 6 de Novembro. Não esqueço que durante boa parte desta preparação, não acreditava ser possível ainda estar aqui. 
Curiosamente, estou muito tranquilo em relação ao joelho. Só espero que o corpo reaja bem ao choque de fazer algo que nunca fez antes, 42kms seguidos. Já falta pouco.

Aquele abraço

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