sábado, 5 de novembro de 2016

Quase quase a iniciar a minha primeira Maratona

Escrevo este artigo a cerca de 18h de iniciar a minha primeira Maratona de sempre. Gostava de me sentir melhor do que como me sinto (já lá chego), mas independentemente disso não podia deixar de escrever este artigo, partilhar com quem possa ler isto, como tem sido estes dias, como me sinto, o que passa pela cabeça, e sobretudo qual o meu estado de espírito.


Inicei esta viagem em Janeiro de 2015. Na altura, já com a Maratona da Corunha em mente, decidi criar um blog onde iria documentar todo o processo até ao dia da Maratona. E durante umas semanas assim foi. Arranjei um plano de treinos, segui-o escrupulosamente, e semana após semana, ia documentando aqui o que havia feito nessa semana. Infelizmente poucas semanas depois de começar a preparação, começaram os problemas no joelho, e após tudo ter feito, tive que desistir, um mês antes do inicio da prova. O resto já devem saber. Alguns meses  convencido que provavelmente teria que ser operado ao menisco, até que uma ressonância magnética, revela que embora com problemas no joelho, não era nada que obrigasse a operar o menisco. Tive uma pequena cirurgia sim, mas para retirar a veia safena da perna esquerda.

Mal soube que não tinha que fazer uma segunda cirurgia, voltei a treinar e a competir, mas todo o entusiasmo que senti nos meses seguintes, começou por volta de Março/Abril de 2016, sobretudo após uma série de semanas seguidas a participar em trails. Depois disso parei um pouco e comecei a perder a motivação. Passei a correr em média duas vezes por semana, sem competir e sobretudo sem objetivos em mente.

Sempre soube que ia chegar o dia em que ia tentar por uma segunda mês concluir  com sucesso uma Maratona, e o tal clique surgiu algures nas férias de Verão. Fiz as contas, tinha perto de 4 meses para me preparar, e tomei a decisão. Inscrevi-me na Maratona do Porto. Seria minha última tentativa! Isso era claro na minha cabeça.

Preparação
Apesar de inscrito, na altura tinha 110% de certeza que me ia acontecer o mesmo que em 2014. Assim que começasse a aumentar volume de treino, o joelho ia começar a ceder ao ponto de ter que parar novamente. O plano de treinos que fiz refletiu isso mesmo. Optei por fazer quatro treinos semanais, com um volume baixo e progressivo, sem treinos intervalados. Além das corridas fiz também trabalho de ginásio, muitos alongamentos e uma sessão de fisioterapia por semana, onde essencialmente jogamos no escuro. Fez-se o que se achou que devia fazer, na esperança que ajudasse a perna, mas sem ideia se iria ajudar ou não. A idea era sobretudo controlar as inflamações.

Foram semanas de treinos normais, com queixas aqui e ali, e um receio silencioso que chegasse o dia em que vinham aquelas dores que jamais esquecerei. Qualquer dor ligeira era suficiente para me assustar confesso. Mas por incrível que pareça, a partir de determinada altura comecei a ter treinos sem queixas, apenas com algumas dores no fim. Depois passei a ter treinos sem dores algumas, antes, durante ou depois. Não vos consigo dizer o quão bom isso é. Conseguir correr e não sentir dor alguma numa parte do corpo que já muito sofreu. Segundo o fisioterapeuta isto pode ter sido uma conjugação de fatores. Mais massa muscular, tendões mais fortes, e as massagens ajudaram a reduzir a tensão muscular, sobretudo ali na zona mesmo abaixo do joelho, onde começam os gémeos.

Tudo foi feito a pensar no joelho, e a verdade é que no final do mês de Setembro estava preocupado por outros motivos. Não sentia a minha forma a subir como desejaria. Estava muito longe de onde achava que devia estar, o que me fez decidir arriscar tudo e passar a 5 treinos semanais, e sobretudo mais volume de treinos. O joelho aguentou tudo, e a  forma melhorou. Ficou como eu desejaria? Infelizmente não, mas pelo menos melhorou.

Fiz todos os treinos que tinha planeado, tendo apenas um em que as coisas correram super mal. Tinha planeado um treino longo de 27kms, mas acabei desistindo aos 18kms. Foi um dia mau, que não mais se repetiu felizmente.

Primeira vez aos 30 Kms.
Nunca havia feito 30 kms em estrada. Já tinha feito um ou dois trails, a roçar essa distância, mas nunca em estrada. Foi um treino que me correu melhor do que esperava, embora com um ritmo baixo (pouco acima dos 05:30). Sentia-me bem ao ponto de aos 26kms ter acelerado o passo e feito os restantes 7kms a um ritmo mais interessante. No entanto, nem tudo foi rosas. Ali perto dos 30kms, começou a custar muito mais, e fiz o resto do treino em grande esforço. 
Independentemente disso, este treino deu-me mais confiança para a prova. Só mais 9kms na Maratona pensei eu. 

Depois disso continuei meus treinos, Domingo seguinte fiz minha ultima prova de preparação, um Trail de 27Kms, que embora com algumas peripécias, não correu tão mal quanto isso. 

Nova fonte de preocupação
Domingo passado, uma semana antes da prova acordei doente, principio de gripe. Custou muito o  treino que fiz nesse dia. Com os dias fui melhorando, e embora hoje me sinta um pouco pior do que ontem por exemplo, estou melhor do que estava dias antes. Ao escrever este texto, decidi ver como me sinto. Algumas dores nas costas, algum cansaço. Claramente ainda não estou a 100%. Estou a tomar medicação, mas como sabem estas coisas demoram.
Esta situação minou a minha confiança. Acredito que perdi alguma forma, e deixou-me muitas duvidas em relação ao ritmo a adotar na prova. Já tinha tudo mais ou menos estabelecido na minha cabeça, e agora fiquei na duvida. Meu único objetivo aqui é chegar ao fim da prova, mas mesmo assim, é importante ter uma estratégia para a prova.  
Qualquer atleta tem sempre melhor rendimento em provas. Corre mais depressa e mais longe do que em treinos. Estou obviamente a  contar com isso na prova, mas não posso deixar de pensar no ritmo que devo adotar, e se possível correr na companhia de outros que vão ao mesmo ritmo que eu. Não posso descuidar-me, para não dar por mim a correr a um ritmo mais rápido do que tenho planeado.

Estratégia para a prova 
Como qualquer estreante, fiz muita pesquisa. E como é óbvio, encontrámos todo o tipo de estratégias. Nada substitui a experiência, pelo que vou um pouco no escuro. Tem atletas para quem a prova tem uma parte apenas, outros que a dividem em duas partes, e outras que vão até 4 partes.
De momento planeio dividir a prova em duas partes. A primeira até aos 30/32Kms, onde irei correr sobretudo por sensações. Se me sentir bem, tentarei correr entre os 05:20 a 05:30. Começar com calma, deixar o corpo habituar-se (o que comigo costuma demorar 30min pelo menos), e depois procurar entrar no ritmo desejado, de forma gradual. A segunda parte, os 12 kms finais, serão obviamente os mais difíceis. O ritmo será ditado pelas sensações claro. Se não tiver boas sensações abrando o ritmo, se tiver boas sensações mantenho o ritmo. 
Falando sem qualquer experiência numa prova com esta distância, para mim a fase mais critica será entre os 32kms e os 38kms. Se chegar aos 38kms, não serão (assim o espero) os 4 kms finais que me irão impedir de chegar ao fim.

Como nos sentimos nos dias que antecedem a prova
Por norma não sou pessoa de sofrer por antecipação. Quando sei que vai custar, tento sempre não pensar na coisa, e simplesmente fazer. Desta vez foi impossível evitar alguns pensamentos. Sempre que não estou concentrado em alguma coisa, vem ao de cima uma certa preocupação, receio, ansiedade, espetivativa, mas acima de tudo que chegue a prova, e eu consiga fazer os 42.1Kms. A melhor coisa que pode acontecer é chegar ao fim, a segunda melhor seria chegar ao fim bem!
A primeira, apesar de tudo tenho confiança que aconteça. Vou com o mind-set de ser necessário algo muito mau acontecer, para me impedir de chegar ao fim! E o receio que falei entra aqui. Que algo suficientemente mau aconteça que me impeça de chegar ao fim da prova.
O segundo objetivo, chegar ao fim bem! Sinceramente não acredito que vá acontecer comigo. Estou bem ciente, que por uma série de fatores que não vale a pena repetir, vai custar muito certamente. Só espero conseguir chegar ao fim, pois sei que valerá a pena.
Felizmente um amigo, irá acompanhar-me nos 15kms finais. O meu lado purista diz-me que não devo fazer isto. Que devo chegar lá por mim e só por mim. Mas depois tem o meu lado realista, o que me diz que há 2 meses atrás não esperavas estar aqui, pelo que vou aceitar a boleia e sobretudo apoio dele sim.
Vamo que vamo!!!!
Este blog foi criado há 662. Passaram cerca de 80 dias desde que iniciei a minha preparação. Não tenho meus registos aqui, mas terei feito cerca de 60 treinos, com três provas de preparação incluídas e cerca de 600kms. Sinceramente acho pouco, sobretudo ao nível de kms efetuados. Naturalmente aprendemos com a experiência, e neste caso gostaria de ter mais kms nas pernas, no mínimo mais 100kms. Mas pronto, a preparação está feita, e agora é tempo de descansar e esperar pelas 09:00 de 6 de Novembro.

Até amanhã!

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