quarta-feira, 26 de abril de 2017

Maratona de Madrid 2017 - Rescaldo

Após quase 4 meses de preparação, finalmente chegou o dia em que arranquei para a minha segunda Maratona de sempre, cerca de 6 meses depois da minha estreia, na Maratona do Porto. Tracei como objetivo para esta prova, um tempo abaixo dos 03:30:00, mesmo sabendo que era um percurso mais difícil que o do Porto, logo menos propenso a records pessoais. Obviamente que nada se compara à primeira vez no que toca a emoções, mas uma Maratona é sempre uma Maratona, pelo que há muito a contar e recordar.

 

Fui para Madrid no dia anterior à prova, mais cinco colegas. Dois para os 10kms, dois para a Meia Maratona e dois para a Maratona. Apanhamos o voo das 06:15 o que talvez não tenha sido a melhor opção, pois implicou acordarmos bem cedo. Chegamos a Madrid, fomos deixar nossas malas no Aparthotel e fomos levantar o dorsal.
Logo aqui começamos a ter noção da dimensão e qualidade desta organização. Um pavilhão enorme, com uma zona enorme tipo feira, outra de alimentação (incluído na inscrição) e por fim a zona dedicada a levantamento de dorsais, e brindes. Estava a contar perder muito tempo, mas na verdade foi super rápido, pois havia muito staff para ajudar, e estava tudo bem separado entre as três provas. Após o almoço passamos o resto da tarde a passear, a fazer tempo para ver a bola (Sporting - Benfica).

Meu estado de espírito era sobretudo de preocupação. A preparação correu bem até cerca de quatro semanas antes da prova, onde comecei a acusar fadiga física e mental. Eu já falei desta situação no meu post anterior, pelo que não me vou repetir. A semana não foi bem conseguida no que toca a horas de sono, e até ao dia anterior à prova sentia-me cansaço, as pernas doiam e sinceramente estava a ver a coisa mal parada. Pode-se pensar que era nervos, mas não penso assim. Estava mesmo cansado e com os treinos que correram mal, sem grande confiança. Fui para a cama com um pensamento apenas... "se acabar a prova já será muito bom".

Dia de prova
Quando fui para a cama, adormeci em três tempos e acordei sem sobressaltos. Tive uma noite de sono relativamente descansada. Nada de ansiedades, tentei manter-me o mais sereno possível. Não sei como é com vocês, mas eu procuro "ouvir" ao máximo o que o corpo me transmite o tempo todo, e quando acordei não foi exceção. Tentei logo verificar como estavam as pernas, ainda deitado na cama. E pelo menos na cama não sentia aquelas dores musculares tópicas. Levantei-me, fui beber água e continuei a não sentir dores. E pronto, fizemos o ritual do costume, pequeno almoço, equipar, umas gargalhadas e toca a ir para o local de partida, a cerca de 2kms de onde estávamos.


Acho que cada um tem a sua maneira de lidar com os momentos que antecedem o inicio da prova. Eu estive relativamente calmo e sereno, comi minha banana a 30 min do inicio e pouco depois lá fui para o local de partida. Desejamos boa sorte uns aos outros, e depois foi cada um por si.

"Vamos lá cara...""
Foi a primeira coisa que me veio à cabeça, naquela fase da motivação final. Ia alongando, dando pequenas corridas e procurando motivar-me e a frase que mais me veio à cabeça foi mesmo esta! Tentei encher-me ao máximo de adrenalina, para procurar ganhar o máximo de confiança possível.
As sensações que as pernas deram naqueles minutos foram as mesmas que tive quando acordei. Como estava relativamente fresco, decidi arriscar! Vou atacar o tempo para o qual treinei, 03:30:00, ou seja, tentar andar nos 04:55 de média, a precaver a quebra que temos quando atingimos a famosa parede.
O ambiente estava eletrizante, atletas até onde a vista conseguia ver. E com alguns minutos de atraso, foi dado o tiro de partida. Para terem noção do número de participantes, desde o tiro de partida até eu passar no pórtico inicial, passaram cerca de 3 min.

A prova
Comecei a prova calmo mas concentrado, tentando evitar a confusão natural dos primeiros kms. Primeiro km fiz em 05:14 e depois até ao km 26, maioria dos meus parciais andaram abaixo dos 04:55, tal como pretendido. Era impossível manter-me constante, pois havia muito sobe desce. Seja como for sentia-me bem, e confesso, com a confiança a aumentar. No entanto, essa confiança foi sol de pouca dura, e por volta do km 26 comecei a sentir dificuldades em manter o ritmo. O km 27 e 28 revelaram isso mesmo, com parciais de 05:17 e 05:23. Foi uma queda grande! Não sei dizer se atingi ali a minha "parede", ou se foi por outra razão, mas as dificuldades que passei a sentir, e o facto de ainda faltar mais de 15 kms, levaram-me rapidamente a desistir da ideia de tentar manter aquele ritmo, e focar-me sobretudo em acabar a prova.
Gostei da maneira como geri meu esforço a partir dai. Procurei manter-me hidratado, tomar meu gel, beber bebidas isotónicas no reforço, não forçar nas subidas e tentar ao máximo aguentar-me naquele ritmo sem pensar muito no que estava a sofrer. Posso dizer que comparando com a minha primeira Maratona, sofri menos em intensidade, mas durante mais tempo.

O ambiente da prova foi fenomenal. Milhares e milhares de pessoas ao longo do percurso a dar-nos incentivo. Cheguei a ficar arrepiado, tal era o barulho que as pessoas faziam à nossa passagem. Ali não há egos, nem pessoas manhosas. Os participantes apoiam-se a 1000%, bem como as pessoas que estavam lá a ver a prova. Havia um enorme respeito de parte a parte, e isso sabe super bem.
A uma dada altura, numa subida bem chata, num local da prova que aparentou já ser tradição, as pessoas em vez de estarem nos passeios, estão bem dentro da estrada, fazendo uma espécie de funil, onde só podem passar dois atletas lado a lado. Senti-me literalmente um ciclista no Tour de France. Que sensação!!!

Mas voltando à prova, tentei poupar-me ao máximo, até que por volta do km 33 decidi dar um "safanão" a mim mesmo, e forçar um pouco mais. Os parciais mantiveram-se próximos dos que vinha tendo desde km 25, mas como vão poder ver, subiu-se alguns kms para o fim. Felizmente não tive quebras, e consegui manter-me na zona a rondar os 05:30. Últimos 2 kms e aproveitando a inclinação favorável, consegui acabar com parciais de 05:03, 04:51, ao km 40 e 41 respetivamente. As pernas não davam para mais, tal era a rigidez com que estavam.



Meu tempo final foi de 03:36:46 a um ritmo médio de 05:06. Apesar de não ter atingido meu objetivo, não há que chorar por isso. Não esqueço o que passei em 2015, e não esqueço as semanas difíceis que antecederam esta prova. De certo modo estou aliviado, pois não só terminei a prova como não tenho que lidar com estas duvidas todas! Está feito e isso é que interessa.
A nível de dores e cansaço pós-prova, foi uma agradável surpresa constatar que não fiquei tão empenado como da última vez. Claro que custo subir e descer escadas após a prova, mas nos dias seguintes (escrevo este rescaldo três dias depois da prova), sinto-me bem melhor que na Maratona do Porto, o que é sempre bom.

Rescaldo final
Recomendo vivamente que façam esta prova, em qualquer das três distâncias. Foi a 40ª edição desta prova, e garanto-vos, isso transparece em tudo. Desde o staff, a policia e serviços de limpeza. Uma máquina super bem oleada, tanto que no final do dia prova, na meta já não havia garrafas vazias no chão. Um dos colegas que foi comigo, já participou em diversas provas por esta Europa fora. Vale o que vale, mas referenciou Madrid como a prova onde há melhor ambiente, no que toca às pessoas incentivaram os atletas.
Como ficamos em Madrid até ao final do dia seguinte, fomos cruzando com outros participantes, e por vezes conseguimos reconhecer outros que fizeram a Maratona, simplesmente pelo andar eh eh

Outra realidade que ainda não tinha visto, foi o que se sofre mais atrás. Depois de acabar a prova fomos para o Aparthotel, e durante a viagem de volta, fomos passando por atletas ainda a competir. Deu para ver todo o tipo de situações, algumas menos boas com participantes no chão a receber assistência médica, e outros em claras dificuldades. É uma prova brutal, muito muito dura, onde só acabar já é um feito enorme.
Para quem ler isto, e estiver a pensar meter-se na sua primeira Maratona, só digo isto. São meses de trabalho árduo, sacrifício, onde se abdica de outras coisas (no meu caso fiz anos na semana que anteceu a prova, e infelizmente não pude comer os doces que gostaria), mas ... viver aquele ambiente.. e chegar ao fim.. esquecemos tudo o que se passou antes, e tudo se justifica.

Da minha parte, vou descansar nos próximos tempos, recuperar das mazelas, desopilar um pouco a cabeça das corridas, competir apenas para me divertir. Próximo desafio, será a Maratona do Porto em Novembro, pelo que algures em Julho espero começar a minha preparação.

Boas corridas :)

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