quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Rescaldo - Trail Amigos da Montanha 2016

Duas semanas após a prova mais importante da minha (pseudo) carreira de corredor amador, foi tempo de voltar à montanha, para participar no Trail Curto dos Amigos da Montanha, onde me esperavam 18kms. A ideia era só mesmo rolar para voltar aos poucos a recuperar forma após a Maratona do Porto, mas para surpresa minha acabou sendo uma prova simplesmente horrível para mim. Das piores prestações que alguma vez tive numa montanha.

Tudo o que tenho vivido nestas semanas tem sido uma aprendizagem. Todo o treino para a Maratona, a Maratona em si, e a recuperação a seguir. Cometi vários erros durante este processo, mas isso é algo inerente a uma experiência nova. Após a Maratona estive 6 dias sem correr, voltando a correr 30min apenas ao sétimo dia. Nesse aspeto cumpri o que é recomendado. No que toca a ginásio fiz apenas dois treinos na semana a seguir à prova. Na semana que antecedeu este trail, voltei ao meu regime normal de treinos de ginásio, com duas corridas durante a semana, um de recuperação e outro intervalado. 
Estas duas semanas foram diferentes num aspeto, a motivação! O corpo ia recuperando, mas o que notei de diferente foi a motivação. Senti-me muito motivado, nunca me passou pela cabeça não me meter noutra Maratona. Queria voltar aos treinos o quanto antes, para procurar manter alguma forma, de modo a começar a treinar em Janeiro para a Maratona de Madrid, a 23 de Abril. Fiz duas corridas de 8kms, pelo que não sabia como meu corpo ia reagir a uma prova de trail. Sentia-me cansado ainda, mas nada que fizesse prever o que aconteceu.

Não tendo nenhum objetivo que me obrigue a "viver" para esse mesmo objetivo, naturalmente relaxei um pouco. Dois dias antes deste trail, tive um aniversário e não me poupei a nada. Como já não estou habituado a essas coisas, passei o dia anterior a este trail assim para o mal disposto digamos, tanto que nem jantei na noite anterior.

A prova
Choveu muito antes da prova. Acordei algumas vezes durante a noite, e o tempo estava assustador. Muita chuva mesmo! Não estava mesmo com vontade de correr confesso, tanto que olhei para o telemóvel algumas vezes a ver se recebia uma mensagem da malta da minha equipa, a dizer que não iam fazer a prova, mas essa mensagem nunca veio, pelo que equipei-me a contar com muita chuva e lama. Cheguei a Barcelos a tempo e esperei pelo inicio da prova.
A ideia nesta prova era simplesmente rolar, sem me preocupar em fazer o melhor tempo possível, e assim foi desde o tiro de partida. Deixei-me ir com calma, contando que o meu corpo fizesse o que sempre faz! Sofrer mais  nos primeiros 30/40 min e depois habituar-se e a partir dai passar a ser mais fácil. Tal não aconteceu.


Acabou sendo uma prova em total sofrimento desde o início. Pulsações altíssimas o tempo todo, más sensações nas pernas e até a cabeça fraca. Não me senti com cabeça sequer para lutar contra o meu corpo, cedo desisti de lutar e passei a serviços mínimos, que por incrível que pareça acabaram sendo o melhor que conseguia fazer. Não conseguia subir nada a correr, mesmo em plano volta e meia fazia a pé. Foi um suplicio acabar a prova.

O tempo final diz tudo, 02:47:55 para 19.2 kms. Para terem noção, um colega de equipa que por norma tem mais ou menos o meu ritmo, fez a mesma prova em 02:10:00! Uma eternidade! Só posso concluir que esta prestação é resultado da Maratona! Provavelmente meu corpo ainda não recuperou e não devia ter participado neste evento! Nada fazia supor que isto iria acontecer, mas como disse mais acima, faz tudo parte da aprendizagem.
Confesso que esta prestação me deixou um pouco desanimado, mas já levantei a cabeça e siga com o que ai vem. Os altos e baixos fazem parte deste desporto, e agora só tenho que ter calma, continuar a treinar e deixar o tempo passar. O próximo grande objetivo está a quase 3 meses de distância, pelo que há tempo para recuperar.

A prova em si
Já fiz algumas provas organizadas pelos Amigos da Montanha! No que toca trails, creio que foi o meu segundo trail de sempre. O resto foi em provas de BTT. Não há provas fáceis organizadas pelos Amigos da Montanha, e curiosamente todas as que fiz correram-me mal. Fui sempre mal preparado, pelo as memórias desta prova não são as melhores. Mas falando da prova em si, foi sempre  perfeitamente imaculada. Tudo correu a 100%, mesmo com o tempo que estava. Trata-se de uma organização que tem a máquina muito bem oleada, e que sabe o que faz! A prova começou às 10:00 em ponto, os trilhos bem marcados, reforços qb. Nada a apontar mesmo.
Por outro lado, foi das provas de trail com mais lama que alguma vez fiz. Muita lama mesmo o que representou uma dificuldade acrescida.

O futuro é já no próximo fim de semana, com uma Meia Maratona. Espero ter uma prestação melhor que neste trail.

Boas corridas.
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terça-feira, 15 de novembro de 2016

Plano de Treinos Maratona 04:00:00

Pouco mais de uma semana após concluir minha primeira Maratona, é tempo de partilhar com vocês que treinos fiz como preparação para esta prova. Este plano foi condicionado pelo meu receio de o joelho ceder com o acumular das semanas e sobretudo do volume de treinos. Tendo sido minha primeira Maratona, e não tendo eu qualquer acompanhamento de profissionais, é natural que o mesmo tenha espaço para (muita) melhoria. Lembro-me de durante a prova já estar a pensar em alterações que vou fazer ao plano, caso volte a meter-me noutra Maratona. Mas o processo é mesmo este, estamos sempre a aprender.

Primeira coisa que me salta à vista, e que vai ao encontro do que já disse, é o baixo volume de treinos por semana. Muito raramente passei dos 50kms por semana, quando o ideal é estar acima dos 70kms no mínimo. Outra coisa que vão notar que pouco tem, é os treinos intervalados. Optei por não os fazer também para proteger os joelhos. Depois na fase do tudo ou nada, ai sim passei a incluir treinos intervalados. Está visto que é um plano que permite pelo menos terminar uma Maratona, mas para quem pretende tempos abaixo dos 03:45:00 adiante, claramente não chega. 

Se a saúde o permitir espero fazer mais Maratonas. Estou curioso para ver como irei definir meu próximo plano, e que diferenças isso trará à minha prestação numa prova.

Seja como for aqui fica os cerca de 60 treinos de preparação para a minha primeira Maratona. 

Boas corridas.
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terça-feira, 8 de novembro de 2016

Rescaldo - Maratona do Porto 2016 - Está feito!!!

Após muito tempo, posso finalmente dizer que a minha viagem rumo à minha primeira Maratona, foi concluída com sucesso!! Com tudo o que se passou desde 2015, poder dizer finalmente que tenho uma Maratona de estrada no curriculum, é algo que significa muito para mim. Todo o esforço, sofrimento, duvidas, receios que me levaram a estar à partida da Maratona, e claro, tudo o que passei durante a prova, tornaram o dia 6 de Novembro de 2016 um dos grande dias da minha vida.


Escrevo este rescaldo dois dias após a Maratona, pelo que já tive algum tempo para processar tudo o que se passou, e escrever aquele que é o artigo mais importante deste blog. O meu objetivo com este blog sempre foi o de procurar passar a experiência que é, fazer a primeira maratona. Espero que gostem.

Antes da prova
A semana que antecedeu a prova foi atípica para mim, na medida em que vivenciei momentos de ansiedade, duvida, receio, excitação, preocupação, etc, que não são normais em mim. Oito dias antes, acordei com princípios de gripe, pelo que estive a semana toda a tentar recuperar. Naturalmente esta situação provocou danos à minha confiança. Estava cheio de duvidas (como podem ler aqui)s obre o ritmo a adotar na prova, e pior que isso estava com receio de a minha condição física mais débil,  impedir-me de chegar ao fim da prova.
Falei muito com o Paulo, um primo meu, praticante de triatlo, que para vocês perceberem o nível que tem, participou na Family Race 2016 por carolice, a corrida secundária da Maratona do Porto, onde percorreu os 15kms da corrida, na casa dos 53min, a uma média por volta dos 03:35. Mas voltando ao que estava a dizer, mudei várias vezes de ideias, à medida que ia conversando com o Paulo. Ele apercebeu-se dos meus receios, e foi recomendando que adotasse um ritmo inicial baixo, na casa dos 05:30 para garantir que chegava ao fim da prova.

O dia anterior à prova foi sui géneris. Não sei se foi psicológico, mas senti-me um pouco pior que nos dias anteriores, meio adoentado, com dores nas costas, pernas e inclusive, alguma febre. Acordei cedo, fui tratar de assuntos pessoais, e ainda de manhã dormi umas boas 2h. Fiquei a maior parte da tarde por casa, e só descansei quando um companheiro me entregou o meu dorsal para a prova. Só ai respirei de alivio e pensei "vou estar á partida da Maratona". Nos dias anteriores à prova comi muita massa, e hidratos e sentia-me enfartado. No que toca a hidratação  procurei hidratar-me ao máximo, mas comprovando meu estado meio adoentado, quer no Sábado de manhã (véspera da prova), quer na manhã da prova, acordei com a garganta seca, custando-me inclusive a engolir. Tratei logo de beber líquidos, e rapidamente deixei de sentir problemas na garganta.

Na véspera da prova eram 21:00 e já estava na cama. Sentia-me adoentado, e como receava não dormir nada, fui para a cama muito cedo. E felizmente dormi muito, o que me ajudou um pouco. O que também aconteceu muitas vezes foi eu acordar durante a noite. Deve ter acordado à vontade mais de dez vezes. Lembro-me claramente de numa das vezes que acordei durante a noite, acordar receoso de adormecer e não ir para a prova, levando-me a ir ao alarme do telemóvel, confirmar a hora do despertador pela terceira vez. Lembro-me também de acordar receoso de não conseguir terminar a prova, e de me sentir mal com isso. Por norma não sou dessas coisas, mas a verdade é que passei por todo o tipo "devaneio mentais".

Quando o despertador tocou, já estava bem desperto. Como tinha tudo preparado no dia anterior,  foi só equipar, e tomar o pequeno almoço. Após alguma pesquisa e conversa com o meu primo, optei por não inventar e fui pelo que já estava habituado a comer. Lembro-me de ter lido um posto do Helder, do blog QuarentaeDois, que após muita experiência se ficou por algo simples como pão com compota e um sumo, coisas a que já estava habituado. Comi então um pão integral com manteiga de amendoim e leite achocolatado. Além disso preparei uma sande com marmelada para comer 45 min antes do inicio da prova.

Fui para o Porto à boleia com mais três colegas do trabalho. Dois repetentes em Maratonas, e dois estreantes. Curiosamente o mais velho dos quatro era de longe o queniano do grupo. Já com 50 anos, e inumeros trails e Maratonas nas pernas, tinha como objetivo para esta Maratona 03:15:00. O que mais me impressionou além disso, é que duas semanas após esta Maratona, vai participar num Trail de 69Kms. Enfim, outro nível!
Mas voltando à questão da boleia, cheguei ao ponto de encontro 10min antes do combinado. Já não me lembrava de ter tanto rigor antes de uma prova. Fiz tudo a tempo e horas!

O dia da prova, marcou a viragem do tempo em definitivo para 2016. Fomos a viagem toda para o Porto com uma temperatura de 7/8 ºC. O facto de não apanharmos aquele calor que tinha estado até dias antes, deu-me algum alento. O tempo estava perfeito para a prova!

Segunda vez seguida com imprevisto sui generis
Chegámos ao local da prova, preparamos o material todo e tratámos de ir para o local da prova, onde nos encontrámos com outros colegas da empresa, para a foto da prache. E novamente (a última vez tinha sido 15 dias antes no trail Santa Catarina), talvez por nervos ou excitação, meu estômago voltou a pregar-me uma partidaa. Fiz tudo o que era suposto fazer ao nível de preparação antes da prova, mas mesmo assim o estômago voltou a estragar-me os planos. Resultado? Os colegas foram para o ponto de encontro estabelecido, e eu fui procurar um café aberto. E posso-vos dizer, que acabou sendo uma pequena aventura. Eram cerca de 08:20, e quase todos os cafés estavam ainda fechados. Os que estavam abertos já tinham filas enormes de atletas que estavam lá ou para o cafezinho ou para ir aos lavabos. Andei e andei, até que comecei a correr. Finalmente encontrei um supermercado aberto e livrei-me do problema. Perdi a foto de grupo, mas deu para fazer um aquecimento.

A partida
Eu sabia que a prova ia ter muitos participantes estrangeiros, mas não contava  com o que vi. Atletas espanhóis, ingleses, alemães e por ai fora. Ao constatar aquilo senti um gozo diferente confesso. Estava quase na zona da partida, quando encontro o meu primo. Desejou-me boa sorte, para ir com calma, e lá fui para o grupo C. Quando me inscrevi na prova, coloquei-me no grupo C, que tinha como objetivo > 03:45:00. Cheguei ao meu local de partida cerca de 15 min antes do inicio da prova.
Estava muito concentrado, sério, meio alheado do que me rodeava. Tinha a 3 metros de mim alguns dos meus colegas, mas não fui ter com eles. Por algum motivo, optei por ficar sozinho, a esperar pelo tiro de partida. Verifiquei o relógio, configurei o leitor MP3, fui ajeitando o cinto que trouxe, e alonguei várias vezes antes da prova começar. O que queria era que a prova comecasse

A partida foi dada à hora marcada, e quando foi momento de passar pelo local da partida, devem ter passado mais de 2min. Liguei meu relógio e lá fui. Tinha 42,195m pela frente...


A prova
Como disse anteriormente tive muitas duvidas sobre o ritmo a adotar, e após muita conversa com o Paulo decidi que seriam as sensações do momento a ditar meu ritmo inicial. Havia uma prova até aos 30kms e outra a partir dai. Foi essa a estratégia que delineei no dia anterior, e foi essa que procurei seguir. Tinha duvidas sobre que "danos" os últimos dias fizeram na minha condição física. Mas logo logo ia tirar essas duvidas todas a limpo.

Senti-me muito bem no inicio. Obviamente os primeiros kms são os mais fáceis, mas mesmo assim foi bom constatar que estava melhor que na semana anterior. Desde o aquecimento forçado, até estes kms iniciais as sensações foram muito boas, sem dores no corpo.

Os primeiros kms são sempre uma enorme confusão, sobretudo para quem parte mais atrás. Mas isso não me impediu de começar dentro do que tinha planeado. O primeiro sorriso da minha parte, foi perto do km 2, onde alguns participantes já estavam nas laterais a mudar as águas às azeitonas. Deu para rir um bocado.
Como já disse, os kms iniciais estavam a correr lindamente, sentia-me leve, a passada estava fácil, tanto que estava constantemente a controlar-me. A dizer a mim mesmo para abrandar o passo. Os primeiros 6 kms foram sempre em crescendo (05:20, 05:17, 05:11, 05:10, 05:15, 05:05), mais rápido do que tinha planeado. Com receio de pagar a fatura mais tarde, optei por um abrandar um pouco. Tive muitas dificuldades em ir sempre ao mesmo ritmo. Oscilava mais do que o desejado entre cada parcial. Parte disso devia-se ao terreno nessa fase não ser completamente plano, mas também era por mim. Depois a partir do km 20 o terreno ficou mais plano, e passei a conseguir manter parciais mais próximos.
Ao km 21 ia com cerca de 01:53:00 de prova. Só para terem noção, meu record pessoal à Meia maratona é na casa da 01h33, pelo que ia bem mais lento que isso.
Gosto muito de correr nesta zona do Porto, por várias razões. O cenário, as pessoas e o facto de haver muitos cruzamentos. Ao cruzarmos com quem vai mais à frente ou atrás, acabamos nos distraindo um pouco, o que é muito bom. Seria mais complicado se nunca houvesse cruzamentos na minha opinião.
Outra coisa que me impressionou foi por volta do km 21, onde cruzei com o atleta que ficou em 1º lugar, ao km 34. Impressionante o ritmo destes atletas. Mas isso é outra história.
O treino mais longo da minha preparação durou 3h e teve 33kms de distância. Esse treino deu-me a perceção que do km 20 ao km 30 é onde me sinto melhor, e assim foi. Cheguei ao km 30 em boa condição.


Como disse anteriormente, senti-me muito bem na fase dos 20 ao 30kms, sempre num ritmo certo, sem grandes quebras ou oscilações. Em toda a prova parei apenas uma vez num posto de abastecimento para beber um pouco de bebida isotónica, de resto foi sempre non stopr.
Ao km 30/31 foi tempo de tomar decisões! Como me sentia bem deci acelerar o passo e aumentei o ritmo. Foi mais ou menos por esta altura que um amigo meu, o Daniel se juntou a mim para me acompanhar até à final. Sentia-me mesmo bem, e do km 32 ao km 34, fiz os meus parciais mais rápidos (05:03, 04:25 , 04:50) da prova.

A famosa parede
Muito ouvi falar da famosa parede, mas não fazia ideia do que se sentia quando ela nos atingia. Já sofri muito em trails e provas de BTT, onde cheguei a fazer provas de 80 e 90 kms, quando tinha preparação nem para metade, fazendo kms e kms a sofrer, mas mesmo assim isto foi diferente de tudo o que já vivenciei.
Corri quase a prova toda com dores musculares, mas até aos 30kms, perfeitamente suportáveis. Após o km 35, e sem me aperceber ao inicio o meu ritmo começou a baixar. Comecei a ter dificuldades em manter o ritmo ali perto dos 05:00, e quase inconscientemente fui abrandando cada vez mais. Não senti uma queda abrupta de energia, apenas comecei a sentir mais e mais dores e o ritmo a baixar, mas não estava associar à famosa parede. Dai em diante foi uma autêntica montanha russa.. em que olhava para o relógio, via o ritmo a baixar e tentava a seguir acelerar. Por outro lado tanto dizia a mim mesmo para abrandar, como a seguir estava a tentar não quebrar o ritmo, não me deixar passar dos 05:30, mas à medida que o fim chegava, tudo piorava. Ali ao km 37/38, tirei a brilhante confusão "Oh Daniel acho que atingi a famosa parede pá...!". Era esta a famosa parede que toda a gente fala, e não é que é implacável? Os últimos kms foram um suplicio, cada vez mais difíceis. Não vos consigo explicar melhor que isto, as pernas simplesmente não tinham conseguiam dar mais!! A cabeça bem que mandava, mas as pernas não reagiam. Iam completamente acima dos seus limites.
Devo ter olhado para o relógio dezenas de vezes naqueles kms finais, como se isso fosse fazer os kms passar mais depressa. Olhava à minha volta e estava tudo a sofrer como eu, passei muitos atletas nos últimos kms, mas também fui ultrapassado por outros. Vi alguns a parar mesmo durante o percurso, e eu a lutar por tudo por continuar. Meti na cabeça que não ia parar 1segundo que fosse, que ia até ao fim a correr, nem que fosse a trote. Achei engraçado que estava a fazer parciais cada vez mais próximos dos 06:00, e as bpm eram as mesmas de há uns kms atrás, onde andava perto dos 05:00. Até por ai se comprovava as dificuldades que o meu corpo estava a passar.
O km 40 e 41 foram de longe os mais difíceis. Já ouvia o speaker lá ao fundo, mas estava mesmo a bater no fundo, a lutar com tudo o que tinha por não desistir. Era uma luta entre a cabeça e o corpo, uma luta que já vivi muitas vezes no passado, mas havia diferenças. Nunca sofri tanto em tão pouco tempo. Nunca tive uma queda tão abrupta como tive nesta prova a partir do km 35. Não foi uma queda gradual, mas sim uma súbita, inesperada eu diria.
Lembro-me de no artigo que publiquei um dia antes da prova, que a prova para mim tinha 38 kms. Que os 4kms finais iriam ser mais fáceis, por ter a meta à vista. Possa, como eu estava errado! Foram os kms mais difíceis de toda a prova. Mas, independentemente de tudo o que passei, não posso deixar de estar satisfeito pela maneira como a minha cabeça lidou com todo aquele sofrimento. Foi exasperante, mas não cheguei a entrar em desespero ao ponto de perder a cabeça.
No km final, com a chegada à vista, ganhei forças onde não havia e fiz o km 42 em 05:30, 17s mais rápido que o km anterior. Uauuuu!!! Estás uma máquina!!!!
Um pormenor que achei muito interessante, foi a crónica do Helder em relação à sua participação nesta prova. O Helder está vários níveis acima do que eu alguma vez fiz, creio que esta foi a sua 9ª Maratona, e tem no seu curriculum vários Ultra Trails. O último na distância de 160kms!! Fiquei muito surpreendido ao ler que mesmo o Helder também foi atingido pela famosa parede. Fez um tempo muito bom (creio que 03:17:00) sobretudo tendo em conta que certamente não fez uma preparação 100% específica para esta prova, na medida em que fez o tal Ultra Trail monstruoso à menos de 3 meses. Por um lado fica a questão do que seria capaz de fazer, se tivesse efetuado uma preparação de 4 meses específica, e por outro deixou-me pensativo pelo facto de ter sido  atingido pela parede também.

A lágrima quase a cair
Não fosse ter o Daniel comigo, acho que ia verter uma lágrima na meta. Durante a prova tive dois ou três momentos em que senti uma emoção diferente, daquelas que parece que nos vamos desfazer em lágrimas. A última foi na meta, a escassos 20m da meta, com aquele mar de gente a apoiar e dar força. Tive quase quase a ir abaixo, e por ventura deitar para fora um conjunto enorme de emoções acumuladas desde 2015. Mas consegui controlar-me e lá terminei sem a tal lágrima.
Terminei a Maratona com o tempo final (no meu relógio) de 03:46:18!!!! Secretamente, tinha o objetivo de fazer a prova abaixo das 03:45:00. Não falhei por muito.



Final atingido
Mal acabo a prova, dou um cumprimento ao Daniel, e agradecendo-lhe a boleia e todo o apoio dado e depois.. bem.. posso-vos dizer que foi muito complicado. As pernas pareciam pedras, tinha tudo muito rígido. Sentia na pele todo o esforço que fiz. Fui andando muito a custo, a passo de caracol, até que chego à zona da entrega das medalhas e kit de finisher. A seguir entro numa zona com bancos e cerveja à disposição. Parecia a 3ª guerra mundial. Alguns participantes sentados, outros deitados de pernas ao ar, mas todos com um ar que metia dó! Nem havia forças para sorrir ou celebrar o feito que todos conseguiram. com um ar pouco saudável, tal e qual como eu. Não me lembro de ver ninguém aos saltos. Vi inclusive pessoal a vomitar e até uma participante a desfalecer. Não há nada de engraçado em ver alguém a desfalecer, mas tinha umas 6 a 8 pessoas à sua volta e adivinhem quem foi chamar a Cruz Vermelha?? O que importa é que a companheira tenha recuperado bem.
Procurei de imediato comer e começar a ingerir líquidos, pois sabia que isso era muito importante. Tinha planeado ir às massagens, mas estava de tal modo cansado, que não tive coragem para ficar de pé 5min que fosse na fila que se fazia na zona das massagens.

Deixo aqui a informação da minha prova, que reflete um pouco o que tentei relatar. Correu melhor do que esperava, e desfez algumas duvidas que tinha. Sinto-me satisfeito, realizado e sobretudo aliviado.  

E o joelho
Foi incrível chegar à prova 100% certo que não iria ter problemas no joelho. E assim foi, tive dores nas coxas, nos pés e nos kms finais comecei a sentir o outro joelho (o menos mau eh eh) a prender. Mas o joelho que tantas chatices me deu, não deu o mínimo problema, à parte uma dor momentânea algures durante a prova.
Não vivo de ilusões, sei que tudo o que fiz estes meses contribuiu para que o joelho se aguentasse. Mas também sei que parte do "mérito" vem de uma coisa chamada sorte. Apenas vou continuar assim, enquanto a saúde o permitir.

Futuro
Muitos atletas quando acabam uma Maratona, a última coisa que pensam é em voltar a meter-se noutra. Claro está que uns tempos depois estão de volta, mas por algum tempo, não querem pensar sequer em fazer outro. Eu não! Nunca me passou pela cabeça não tentar novamente! Fiz a primeira, aprendi muito e espero daqui a um ano estar novamente à partida da Maratona do Porto 2016, caso a saúde o permita. Por outro lado não quero perder ritmo/forma, pelo que já tenho um alvo para 2017, a Meia Maratona de Braga, onde vou tentar melhor meu record pessoal, e acabar a prova abaixo das 01:30:00, e não me canso de repetir, se a saúde o permitir claro.

E pronto, hoje atingimos o ponto mais alto deste blog, ainda não sei de vou continuar com ele, pois não tenho a mínima noção se está minimamente agradável. Espero que hoje, amanhã, daqui a um ano ou dez anos, alguém leia este artigo e lhe seja de algum modo útil. Minha crença em estar à partida desta Maratona era tão baixa, que nesta 2ª tentativa optei por não postar os meus treinos. Mas isso fica prometido, irá ser um dos meus próximos artigos. Irei colocar tudo o que fiz, e também o que vou tentar melhorar da próxima vez. A preparação que fiz pode ser muito melhorada, nunca parámos de aprender.

Agradecimentos
Tenho várias pessoas a quem quero agradecer, que foram muito importantes nesta viagem. Algumas deram-me força em 2015, outras agora. Vou-me esquecer de alguns certamente, mas ninguém leva a mal. 
O meu muito obrigado ao meu primo Paulo, ao maninho Dani (que já prometeu que em 2017 vai estar à partida da Maratona do Porto), ao meu fisioterapeuta Marco, e agora seguidinho à Verinha, Ni, Filipa, Daniela, Natália, Marta, Sylvie, Marina, Marisa, Bruno, Nuno, Hugo, minha familia, Be, Francelina, Francisca, Carla,  malta dos Fama Runners, Helder do blog QuarentaeDois, à malta que foi acompanhado este blog, e por ai fora.

Até à próxima corrida :)


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sábado, 5 de novembro de 2016

Quase quase a iniciar a minha primeira Maratona

Escrevo este artigo a cerca de 18h de iniciar a minha primeira Maratona de sempre. Gostava de me sentir melhor do que como me sinto (já lá chego), mas independentemente disso não podia deixar de escrever este artigo, partilhar com quem possa ler isto, como tem sido estes dias, como me sinto, o que passa pela cabeça, e sobretudo qual o meu estado de espírito.


Inicei esta viagem em Janeiro de 2015. Na altura, já com a Maratona da Corunha em mente, decidi criar um blog onde iria documentar todo o processo até ao dia da Maratona. E durante umas semanas assim foi. Arranjei um plano de treinos, segui-o escrupulosamente, e semana após semana, ia documentando aqui o que havia feito nessa semana. Infelizmente poucas semanas depois de começar a preparação, começaram os problemas no joelho, e após tudo ter feito, tive que desistir, um mês antes do inicio da prova. O resto já devem saber. Alguns meses  convencido que provavelmente teria que ser operado ao menisco, até que uma ressonância magnética, revela que embora com problemas no joelho, não era nada que obrigasse a operar o menisco. Tive uma pequena cirurgia sim, mas para retirar a veia safena da perna esquerda.

Mal soube que não tinha que fazer uma segunda cirurgia, voltei a treinar e a competir, mas todo o entusiasmo que senti nos meses seguintes, começou por volta de Março/Abril de 2016, sobretudo após uma série de semanas seguidas a participar em trails. Depois disso parei um pouco e comecei a perder a motivação. Passei a correr em média duas vezes por semana, sem competir e sobretudo sem objetivos em mente.

Sempre soube que ia chegar o dia em que ia tentar por uma segunda mês concluir  com sucesso uma Maratona, e o tal clique surgiu algures nas férias de Verão. Fiz as contas, tinha perto de 4 meses para me preparar, e tomei a decisão. Inscrevi-me na Maratona do Porto. Seria minha última tentativa! Isso era claro na minha cabeça.

Preparação
Apesar de inscrito, na altura tinha 110% de certeza que me ia acontecer o mesmo que em 2014. Assim que começasse a aumentar volume de treino, o joelho ia começar a ceder ao ponto de ter que parar novamente. O plano de treinos que fiz refletiu isso mesmo. Optei por fazer quatro treinos semanais, com um volume baixo e progressivo, sem treinos intervalados. Além das corridas fiz também trabalho de ginásio, muitos alongamentos e uma sessão de fisioterapia por semana, onde essencialmente jogamos no escuro. Fez-se o que se achou que devia fazer, na esperança que ajudasse a perna, mas sem ideia se iria ajudar ou não. A idea era sobretudo controlar as inflamações.

Foram semanas de treinos normais, com queixas aqui e ali, e um receio silencioso que chegasse o dia em que vinham aquelas dores que jamais esquecerei. Qualquer dor ligeira era suficiente para me assustar confesso. Mas por incrível que pareça, a partir de determinada altura comecei a ter treinos sem queixas, apenas com algumas dores no fim. Depois passei a ter treinos sem dores algumas, antes, durante ou depois. Não vos consigo dizer o quão bom isso é. Conseguir correr e não sentir dor alguma numa parte do corpo que já muito sofreu. Segundo o fisioterapeuta isto pode ter sido uma conjugação de fatores. Mais massa muscular, tendões mais fortes, e as massagens ajudaram a reduzir a tensão muscular, sobretudo ali na zona mesmo abaixo do joelho, onde começam os gémeos.

Tudo foi feito a pensar no joelho, e a verdade é que no final do mês de Setembro estava preocupado por outros motivos. Não sentia a minha forma a subir como desejaria. Estava muito longe de onde achava que devia estar, o que me fez decidir arriscar tudo e passar a 5 treinos semanais, e sobretudo mais volume de treinos. O joelho aguentou tudo, e a  forma melhorou. Ficou como eu desejaria? Infelizmente não, mas pelo menos melhorou.

Fiz todos os treinos que tinha planeado, tendo apenas um em que as coisas correram super mal. Tinha planeado um treino longo de 27kms, mas acabei desistindo aos 18kms. Foi um dia mau, que não mais se repetiu felizmente.

Primeira vez aos 30 Kms.
Nunca havia feito 30 kms em estrada. Já tinha feito um ou dois trails, a roçar essa distância, mas nunca em estrada. Foi um treino que me correu melhor do que esperava, embora com um ritmo baixo (pouco acima dos 05:30). Sentia-me bem ao ponto de aos 26kms ter acelerado o passo e feito os restantes 7kms a um ritmo mais interessante. No entanto, nem tudo foi rosas. Ali perto dos 30kms, começou a custar muito mais, e fiz o resto do treino em grande esforço. 
Independentemente disso, este treino deu-me mais confiança para a prova. Só mais 9kms na Maratona pensei eu. 

Depois disso continuei meus treinos, Domingo seguinte fiz minha ultima prova de preparação, um Trail de 27Kms, que embora com algumas peripécias, não correu tão mal quanto isso. 

Nova fonte de preocupação
Domingo passado, uma semana antes da prova acordei doente, principio de gripe. Custou muito o  treino que fiz nesse dia. Com os dias fui melhorando, e embora hoje me sinta um pouco pior do que ontem por exemplo, estou melhor do que estava dias antes. Ao escrever este texto, decidi ver como me sinto. Algumas dores nas costas, algum cansaço. Claramente ainda não estou a 100%. Estou a tomar medicação, mas como sabem estas coisas demoram.
Esta situação minou a minha confiança. Acredito que perdi alguma forma, e deixou-me muitas duvidas em relação ao ritmo a adotar na prova. Já tinha tudo mais ou menos estabelecido na minha cabeça, e agora fiquei na duvida. Meu único objetivo aqui é chegar ao fim da prova, mas mesmo assim, é importante ter uma estratégia para a prova.  
Qualquer atleta tem sempre melhor rendimento em provas. Corre mais depressa e mais longe do que em treinos. Estou obviamente a  contar com isso na prova, mas não posso deixar de pensar no ritmo que devo adotar, e se possível correr na companhia de outros que vão ao mesmo ritmo que eu. Não posso descuidar-me, para não dar por mim a correr a um ritmo mais rápido do que tenho planeado.

Estratégia para a prova 
Como qualquer estreante, fiz muita pesquisa. E como é óbvio, encontrámos todo o tipo de estratégias. Nada substitui a experiência, pelo que vou um pouco no escuro. Tem atletas para quem a prova tem uma parte apenas, outros que a dividem em duas partes, e outras que vão até 4 partes.
De momento planeio dividir a prova em duas partes. A primeira até aos 30/32Kms, onde irei correr sobretudo por sensações. Se me sentir bem, tentarei correr entre os 05:20 a 05:30. Começar com calma, deixar o corpo habituar-se (o que comigo costuma demorar 30min pelo menos), e depois procurar entrar no ritmo desejado, de forma gradual. A segunda parte, os 12 kms finais, serão obviamente os mais difíceis. O ritmo será ditado pelas sensações claro. Se não tiver boas sensações abrando o ritmo, se tiver boas sensações mantenho o ritmo. 
Falando sem qualquer experiência numa prova com esta distância, para mim a fase mais critica será entre os 32kms e os 38kms. Se chegar aos 38kms, não serão (assim o espero) os 4 kms finais que me irão impedir de chegar ao fim.

Como nos sentimos nos dias que antecedem a prova
Por norma não sou pessoa de sofrer por antecipação. Quando sei que vai custar, tento sempre não pensar na coisa, e simplesmente fazer. Desta vez foi impossível evitar alguns pensamentos. Sempre que não estou concentrado em alguma coisa, vem ao de cima uma certa preocupação, receio, ansiedade, espetivativa, mas acima de tudo que chegue a prova, e eu consiga fazer os 42.1Kms. A melhor coisa que pode acontecer é chegar ao fim, a segunda melhor seria chegar ao fim bem!
A primeira, apesar de tudo tenho confiança que aconteça. Vou com o mind-set de ser necessário algo muito mau acontecer, para me impedir de chegar ao fim! E o receio que falei entra aqui. Que algo suficientemente mau aconteça que me impeça de chegar ao fim da prova.
O segundo objetivo, chegar ao fim bem! Sinceramente não acredito que vá acontecer comigo. Estou bem ciente, que por uma série de fatores que não vale a pena repetir, vai custar muito certamente. Só espero conseguir chegar ao fim, pois sei que valerá a pena.
Felizmente um amigo, irá acompanhar-me nos 15kms finais. O meu lado purista diz-me que não devo fazer isto. Que devo chegar lá por mim e só por mim. Mas depois tem o meu lado realista, o que me diz que há 2 meses atrás não esperavas estar aqui, pelo que vou aceitar a boleia e sobretudo apoio dele sim.
Vamo que vamo!!!!
Este blog foi criado há 662. Passaram cerca de 80 dias desde que iniciei a minha preparação. Não tenho meus registos aqui, mas terei feito cerca de 60 treinos, com três provas de preparação incluídas e cerca de 600kms. Sinceramente acho pouco, sobretudo ao nível de kms efetuados. Naturalmente aprendemos com a experiência, e neste caso gostaria de ter mais kms nas pernas, no mínimo mais 100kms. Mas pronto, a preparação está feita, e agora é tempo de descansar e esperar pelas 09:00 de 6 de Novembro.

Até amanhã!
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