quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

2º Trail da Franqueira - Rescaldo

O passado dia 21 de Fevereiro, marcou o meu regresso aos Trails, participando pela primeira vez no Trail da Franqueira, com a distância prevista de 24kms. Acabou sendo um pouco mais que isso, num regresso que custou claro, mas acima de tudo, que me soube muito bem.


Meu último trail não acabou bem. Uma queda estupida, originou sete pontos no antebraço, e uma paragem que travou a lenta melhoria de forma que estava a ter até então. Após tirar os pontos, voltei lentamente aos treinos.
Não partilhei com vocês, mas no final de Janeiro, fiz um treino de trail, com malta dos Fama Runners. Foramm cerca de 15, que muito me custaram a fazer. A forma era péssima. Mas deu o mote para eu ganhar a motivação necessária, para passar treinar mais. Quase de imediato, inscrevi-me em algumas provas, e a motivação logo surgiu.
Semana após semana, fui aumentando o tempo de corrida no treino longo da semana, à razão de 10min por semana. O último teve a duração de 90min. 

No entanto, sabia que não tinha preparação para um trail de 24kms. Devia ter ido para o de 17kms! Mas tudo em mim, dizia para fazer o de 24kms, e assim foi. A teimosia venceu a razão.

A zona de Barcelos e arredores é mesmo assim. Não existem zonas planas. Sendo apenas meu 2º Trail de sempre com uma distância superior a 20 kms, não sou a pessoa mais indicada para dizer se para a distância, era uma prova muito díficil ou não. No papel achei o Trail de Santa Catarina mais difícil que este, apesar de ser uma distância menor. 
Como sempre, tentei não pensar no que iria acontecer. Acho que não faz bem antecipar este tipo de coisas. Facilmente podemos pensar que vamos sofrer muito, que vai custar, etc. E isso não traz nada de bom, a meu ver. Por isso tento sempre ter a cabeça limpa, e não pensar muito na coisa.

Como foi a prova?
Ciente da preparação que tinha, minha estratégia era clara. Fazer o trail com muita calma, sem forçar nunca, com o único objetivo de chegar ao fim. E assim o fiz. Fomos surpreendidos por um dia lindo, e bastante quente para altura do ano. Estava perfeito para a prática de desportos ao ar livre. 
Comecei então a prova dentro da estratégia que defini, partindo na parte de trás do poletão, e deixando-me rolar com calma sem nunca forçar. E assim foi até pouco depois do primeiro reforço, perto do km 7, onde uma sucessão de eventos levou a que eu, e os outros membros do grupo em que eu estava inserido  (ou parte deles como já irão perceber), fizesse mais 5kms do que era suposto.

Sabem como é nestas coisas. Quando se forma um grupo, por norma vamos atrás de quem vai à nossa frente, sem prestar a atenção devida ao percurso. Saimos do 1º reforço, e quem foi à frente deve ter tomado a direção errada, e nós fomos atrás. Entramos novamente no monte e deixámos de ver fitas. E logo começamos a ter dúvidas, até que um betetista (apanhamos muitos) nos diz para irmos em frente, pois tinham visto atletas mais à frente. Fomos em frente, até que chegamos a um cruzamento, com uma sáida à esquerda, e outra à direita. O problema é que havia fitas para ambas as saidas. Conversa entre o grupo, e optamos pelo lado esquerdo, até que chegamos a um ponto de separação, com placas para Trail Curto e Caminhada. Placa para trail longo nada! E aqui começa a confusão.
O elemento do staff da organização presente nesse local, não nos consegue ajudar. Peço para ele ligar para a organização. Não atendem. Até que nos manda para trás. Voltamos para trás, a apanhar pelo caminho pessoal da Caminhada/Trail Curto, até que passamos novamente no tal cruzamento que falei anteriormente, onde seguimos pelo lado direito. 
E foi ai que entrámos num jogo de ping-pong, pois encontrámos mais elementos do staff que não souberem indicar-nos a direção correta. Ora voltávamos de onde vinhamos, ora davamos meia volta. Uma confusão tremenda!
E assim andámos, até que um elemento "vassoura" da organização, nos indicar o caminho certo. Caminho certo, que afinal era o que tinhamos escolhido inicialmente (irónico não?). Tudo isto à custa de 5kms extra, e sabe-se lá quanto tempo perdido. O caminho certo para nós, era o mesmo do Trail Curto! 

E foi nestes dois items que a organização naõ esteve perfeita. Staff sem estar devidamente informado, e falta de placas a indicar a direção para o Trail Longo. Só na 3ª vez que apanhei uma placa a indicar Trail Curto, é que tinha ao lado essa placa, outra a indicar Trail Longo. A partir dai não tivemos mais problemas do género.

Pelos vistos o cruzamento onde tinha fitas para ambos os lados, era zona de passagem no início e fim do trail, dai a confusão gerada.
Inicialmente eramos um grupo com mais de 10 pessoas. Depois daquela peripécia, uns optaram por continuar no Trail Curto, e outros optaram por continuar no Trail Longo. Para mim foi uma decisão fácil. Insensata talvez, mas fácil. Eu vim para fazer o Trail Longo, e é isso que eu vou fazer, Foi mais ou menos este o meu mind-set na altura.assim o fiz.

Com os kms o nosso grupo foi ficando mais curto, até que ficamos quatro elementos. Dois homens e duas mulheres. Dos quatro, eu era o que tinha o pior ritmo. Resguardei-me muito. Nas subidas mais longas ficava um pouco para trás, e nas descidas recuperava.
Não posso deixar de realção o andamento das mulheres que nos acompanhavam. Sobretudo uma delas. Não tinha um ritmo muito rápido, mas fosse a subir ou descer, ela não parava de correr. Fazia tudo com uma facilidade impressionante. Nunca a vi ofegante, o que é deveras impressionante. Acabou sendo a minha lebre principal até ao fim da prova.
É uma das belezas deste tipo de eventos. Do nada formou-se ali um pequeno grupo, com pessoas que se calhar nunca mais se vão ver. Mas que durante aqueles 29 kms, estiveram sempre juntos, riram, conversaram, esperaram pelo que vinha atrás. Uma camaradagem muito saudável.

Quando chegámos ao reforço grande do Trail Longo, perguntei em que km estavamos. Foi-me dito que estavamos no km 13. Como eu e o outro elemento masculino do nosso grupo de quatro, tinhamos 14.5kms no relógio, presumimos que estavamos com 1.5kms a mais. Como mais tarde pude confirmar, isso não era verdade. Afinal eram 5kms.

O resto da prova, foi sem surpresas, com nós os quatro quase sempre juntos. Por vezes um ou dois elementos do grupo adiantavam-se, e pouco depois os que ficavam para trás recuperavam e vice-versa. Quanto ao menino, eu diria que 70% do tempo ia em ultimo.

E essas sensações
Tenho sentido alguns problemas no joelho direito. Supostamente o joelho com menos problemas. Pelos sintomas (dor ao longo da face externa do joelho), parece ser o Joelho do Corredor, questão que falei aqui
Na semana anterior à prova, comecei a usar um novo set de palmilhas personalizadas. O processo de adaptação  demora sempre o seu tempo, até o corpo se habituar (assim o espero) às palmilhas. O
Passei o dia anterior à prova, com algumas dores nessa zona. A decisão sensata seria não participar na prova. Mas fui teimoso! Fiz um tratamento em casa, à base de gelo + pano quente + Voltaren, e o que é certo é no dia da prova, acordei sem dores nos joelhos. Restava saber até quando!

Comecei a sentir tensão muscular nas pernas, ali pelo km 10. Uma tensão nos músculos acima dos joelhos. No resto da prova, senti dores em sítios diferentes dos joelhos, que com o tempo foram passando. O que foi constante até ao fim, foi aquela tensão mesmo por cima dos joelhos, e também atrás, mesmo abaixo do joelho. 
Cheguei a ter pensamentos do tipo "coitadinho de mim.. sempre com dores.. que me..", mas logo os afastei! De que adianta isso??

Fiz um grande esforço por me manter naquele grupo! Como disse, anteriormente, eu era o elemento  com pior ritmo/preparação, dai andar quase sempre na cauda. Senti-me motivado, em lutar por me manter naquele grupo.
Só pensava na sensação que sabia que ia ter quando acabasse a prova, e claro na Coca-Cola que me esperava. Cada um tem a sua mania, a minha é mesmo a Coca-Cola. É a única coisa que quero no fim de uma prova destas. Quanto maior o esforço, maior a vontade a beber.

Também aqui a experiência que começo a ter, está a ajudar. O cansaço foi-se instalando, as forças a ir, as dores sempre lá, o tempo a passar e o final da prova a não chegar. Tudo isto pode fazer-nos vacilar, e com isso levar-nos a desesperar. Tive meus momentos claro, mas no geral consegui manter-me calmo. Uma altura cheguei a parar de perseguir meu grupo. Nem 5s depois estava novamente a correr.


Ainda não passei a prova do meu Garmin para o PC, mas esta foto serve. Tempo de prova no meu relógio de 03h42min, com a distância de 29,08kms. Pela organização deu 03:46:31,85. Parte deste gap a a culpa é minha. Parei o relógio duas ou três vezes. Erro meu. Mesmo parado, o relógio tem que continuar a contar.

Pós-prova
Fiquei estourado claro. Só por uma vez corri mais que 29kms. Na altura foram 30kms, em outro trail, curiosamente na mesma zona deste. Lembro-me de nesses 30kms, ter sofrido ainda mais, pelo que nem tudo foi mau, desta vez. Estive 1h30 a aplicar gelo e panos quentes em ambos os joelhos. Como não me doía a parte exterior do joelho, não fiz nada ai. Erro crasso! Dia seguinte,  acordei mal. Muito cansado, dorido, e com dores no joelho direito. Um Voltaren durante a manhã, e surpreendentemente a meio do dia passei a sentir-me muito melhor. Cansado, mas sem dores de maior. 
No final do dia, treino de recuperação no ginásio, com especial incidência nas pernas. Chegando a casa foi jantar e caminha cedo. A idade não perdoa a ninguém. Sinto que meu corpo demora mais tempo a recuperar que dantes. Por isso, os dois primeiros dias pós-prova são para ser levados a sério, no que toca à recuperação. Não se pode facilitar.

A organização
Não obstante os problemas que tivemos, que nos levaram a fazer mais 5kms que o suposto, não posso deixar de elogiar a organização, a Experenciacar.  Foi apenas o 2º Trail da Franqueira, e é normal que nem tudo sai a 100%. 
O que posso dizer, é que independentemente do sucedido, só tenho a falar bem da prova. Bons reforços, trilhos difíceis qb, e muito bem recebidos. Cada vez mais, prefiro as provas fora das grandes cidades. Acho que tudo é melhor, sobretudo na componente humana. Paga-se menos, e recebe-se muito mais.
Já tive oportunidade de trocar impressões com um dos elementos da organização, a respeito do sucedido. A simpatia e humildade revelada, é de enaltecer, e vai ao encontro do que disse anteriormente. 
A celeridade com que colocaram tempos, fotos e agradecimentos, mostra que levam o que fazem mesmo a sério.

Este trail, é o primeiro de três que fazem parte do Troféu Bravery. A 2ª prova, será o Trail Expedição ao S. Gonçalo a 3 de Julho, e o Trail da Guarita a 9 de Outubro. Da minha parte, espero poder estar presente. Quanto a vocês, se puderem participar, não hesitem! Acreditem que vão gostar.


Uma das razões porque adoro este desporto
Devem estar a perguntar-se porque pus uma foto de uma garrafa de água com gás vazia. A organização optou por não colocar copos de plástico nos reforços. E embora houvesse líquidos, quem não levasse um copo ou garrafa vazia, ia ter problemas. Pois bem, uma senhora que estava a fazer o trail, vê-me ali a olhar para um lado e para o outro à procura de maneira de beber algum liquido, não tem mais nada e "tome lá esta.. que está vazia..". Aceitei a garrafa, agradeci e bebi o que tinha a beber. Quando fui para a devolver, já a senhora tinha partido. Pouco depois encontro a senhora no trilho, onde além de agradecer mais uma vez o gesto, fiz questão de lhe devolver a garrafa.. "essa era para si.. eu tenho aqui outra para mim..". Foi um gesto simples, mas que cai sempre super bem.

Tu é que és maluco
Hoje está numa de escrever, pelo que aqui vai mais uma história engraçada. 
No dia seguinte à prova, um amigo vem ter comigo e começa com a conversa do costume:
- Tu correste 29kms!! Tu é que és maluco!!!
- Não entendo o prazer de correr tanto tempo!! Que tiras disso?
- Porque te sujeitas a tanto sofrimento e tal

A verdade é aquela que sabemos. Só quem faz isto entende! Pelo que não tentei sequer explicar nada. Limitei-me a sorrir. 
Não importa se fazemos caminhadas, trails curtos, trails longos, ou ultras como o Hugo do blog QuarentaeDois. Cada um faz o que faz, faz o que quer e sempre por razões próprias. Se desfrutamos, se nos faz sentir bem, é continuar enquanto houver perninhas e cabeça. O resto é história.

E agora
Próximo fim-de-semana, tenho uma Meia-Maratona para fazer. Com o tempo vou gostando mais e mais de correr no monte do que na estrada. Por um lado acho a estrada mais violenta para o nosso corpo que o monte, e por outro mais maçadora. 

Meu joelho esquerdo continua a queixar-se, mas nada impeditivo. Por agora, o trabalho de prevenção que tenho feito, tem-me permitido ir levando a água ao moinho. Já o joelho direito, a estar certo meu diagnóstico, conto que tenha solução a breve trecho. Tenho que continuar a apostar nas mesmas coisas. Alongamentos, reforço muscular e gelo no fim dos treinos/provas. 
Sem levar nada como certo, espero no próximo Domingo, conseguir chegar ao fim da prova em bom nível, sem pensar em tempos. É começar a prova e ver o que o corpo me transmite.
Estes 29kms ajudaram muito a melhorar minha preparação. Se as lesões não me travarem, espero poder continuar a fazer provas até 30kms, em que possa disfrutar cada vez mais e sofrer cada vez menos.

Boas corridas.


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